O mercado brasileiro de e-commerce presenciou um movimento estratégico inédito que promete impactar a disputa entre as gigantes do setor. A Amazon anunciou que zerará, até dezembro, as taxas de armazenagem e envio cobradas dos lojistas que utilizam seu programa Fulfillment by Amazon (FBA). Por meio do FBA, a empresa assume toda a cadeia logística, incluindo armazenamento, embalagem, entrega, atendimento ao cliente e logística reversa.
A decisão acontece em um momento de expansão do comércio digital. Segundo a ABIACOM (Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce), o faturamento do e-commerce no Brasil deve alcançar R$ 224,7 bilhões em 2025, um crescimento de 10% em relação a 2024. O primeiro semestre deste ano já registrou alta de 7% no GMV (valor bruto de mercadorias) e 5% no volume de pedidos.
Dentro desse cenário, os marketplaces continuam sendo os principais motores: o Mercado Livre lidera o tráfego com 34,3%, seguido pela Shopee com 24,8% e a Amazon Brasil com 16,8%, conforme relatório da Conversion (julho de 2025). A isenção de taxas do FBA é a principal aposta da Amazon para acelerar sua participação e reduzir a distância para o líder regional.
A disputa pelo vendedor: o novo campo de batalha
Ao zerar as taxas durante os meses mais fortes do varejo — Black Friday e Natal —, a Amazon abre mão de uma importante fonte de receita para focar na conquista do que mais lhe falta em seu ecossistema no Brasil: vendedores.
Nos últimos anos, a guerra se concentrou no consumidor final, com Shopee e Mercado Livre disputando agressivamente o cliente através de benefícios como frete grátis e campanhas promocionais. A Shopee popularizou o frete a partir de R$ 10 em datas duplas (como 11.11), enquanto no dia a dia o benefício vale para pedidos acima de R$ 19. O Mercado Livre reagiu, diminuindo o valor mínimo para entrega gratuita para R$ 19 e intensificando a disputa pelo consumidor.
A Amazon entra no jogo com uma tática distinta: focar na base de vendedores, a parte mais difícil de escalar em um marketplace. A mensagem é clara: a plataforma quer ser prioridade para os lojistas.
A estratégia vai além da isenção de dois meses no FBA. Lojistas que nunca utilizaram o serviço podem ter isenção adicional de comissão. Há também um incentivo para quem reinvestir 3% das vendas em retail media, podendo estender o benefício por até quatro meses. A empresa está, portanto, trocando receita imediata por fidelização e relevância de longo prazo.
O custo da conquista e o timing estratégico
Esta ofensiva representa um custo operacional elevado, dado que o FBA é um serviço logístico complexo e de alto custo. Abrir mão dessas taxas no pico de vendas é uma decisão estratégica de risco calculado, mas com alto potencial de retorno.
O timing é crucial: ao agir antes da Black Friday, a Amazon cria um forte efeito de atração sobre novos lojistas e pequenos e médios empreendedores que historicamente priorizavam outras plataformas. Ao experimentarem o FBA pela primeira vez, muitos podem descobrir ganhos de eficiência logística e de atendimento, optando por permanecer no programa mesmo após o fim da isenção das taxas.
Quem ganha com o acirramento da concorrência
Neste embate entre gigantes, o principal beneficiário é o vendedor e, por extensão, o consumidor. A competição força cada plataforma a aprimorar suas condições, otimizar serviços e repensar seus modelos de rentabilidade.
O mercado de e-commerce brasileiro entra em uma nova fase de profissionalização. A disputa por vendedores tende a:
- Ampliar o sortimento de produtos disponíveis nas plataformas.
- Reduzir prazos de entrega.
- Pressionar os preços para baixo, já que cada marketplace busca oferecer a melhor experiência.
Com mais lojistas migrando para o FBA e utilizando a estrutura logística da Amazon, o consumidor final é beneficiado com entregas mais rápidas e confiáveis, inclusive em regiões de alcance limitado. Esse efeito em cadeia eleva o padrão de qualidade do e-commerce brasileiro, criando um ciclo virtuoso em que a eficiência das plataformas se traduz em conveniência, economia e confiança para o consumidor. Quando gigantes competem, o ecossistema é quem mais lucra.
